Created with flickr slideshow.

Sou Tradutora (inglês/português) profissional, formada em Letras-Tradução pela Universidade Anhembi-Morumbi, atuando há mais de 20 anos no campo técnico e especialmente literário. Traduzi mais de 190 livros até o presente, entre romances, livros de negócios, de autoajuda, biografias, guias, trabalhando como freelancer para editoras renomadas. Também escrevo artigos, crônicas, textos em geral, e acabo de publicar o “Meu Próprio Livro”. I'm a professional Translator (English/Portuguese), with a Letters/Translation degree. I've been working for more than 20 years in the area, with technical and especially literary translation. I’ve translated more than 190 books up to now, among novels, business books, biographies, self-help books, guides, working as a freelancer for renowned publishers. I also write articles, chronicles, general texts, and I’ve just published my own book, called “Meu Próprio Livro”.

Sobre o Blog / About the Blog - Link:

Onde quer que você esteja, sinta-se em casa aqui!
Wherever you are, feel at home here.
Donde quiera que estés, te sientas en casa acá.

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São inúmeros aqueles que não são mais escritores aprendizes, mas todos somos aprendizes de escritores para sempre...
There are countless ones who are no longer apprentice writers, but we are all writers' apprentices forever...

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Livros que Adoramos

      Livros são perfeitos para serem dados de presente a quem gosta muito deles, pois, além do entretenimento, contribuem para boas lembranças que provavelmente durarão muito na mente do leitor presenteado. Também é muito bom doar livros e partilhar com os outros as ótimas experiências e o aprendizado que desfrutamos através deles. Mas se há uma coisa relacionada a livros de que gosto especialmente, além da leitura em si, é colecioná-los (os favoritos, passando os demais adiante). Nada como folhear um livro, admirar a capa, as ilustrações, a textura das páginas, algo que não se encontra num e-book, apesar de fazerem tanto sucesso com o público em geral e de serem tão práticos.
     Temos de nos desfazer de livros de que gostamos ao longo da vida, levando em conta o pouco espaço das residências dos tempos modernos. Alguns livros têm o seu valor sentimental, naturalmente, e as pessoas vão formando uma coleção particular, mas é sempre tempo de renovação.
     É muito bom ter livros à disposição para escolher qual ler. Sem falar nos gibis da Turma da Mônica, meus favoritos, e em revistas em geral. Afinal, há uma hora para tudo e, de fato, os livros sempre têm sido companheiros inseparáveis. Qualquer pessoa pode fazer sua coleção, porque, apesar de muitos livros serem caros, existem diversas maneiras de adquiri-los com preços bem mais acessíveis. No sebo, encontramos preciosidades e preços atraentes. Nas livrarias, sempre há a seção das promoções, além das famosas feiras e bienais. Já comprei livros interessantes por um quarto do preço normal, ou até menos, coleções inteiras pelo preço de um único livro e assim por diante.
     Ganhar livros, então, é uma alegria. Por essa razão, acho tão interessante aquele projeto levado adiante em algumas cidades em que um leitor coloca um livro que já leu, e provavelmente gostou, no banco de uma praça ou em algum outro lugar para que uma outra pessoa o encontre e possa ter o mesmo privilégio de o ler.
     E ainda na questão das boas lembranças que guardamos através dos livros, um dos que mais gostei na adolescência foi O ‘Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Brontë, como não poderia deixar de ser. Naquela época, uma amiga me emprestou o exemplar para ler, e eu nunca o comprei. Recentemente, concluí que ele tem de fazer parte da minha “biblioteca” _ o exemplar em português e o em inglês também, “Wuthering Heights”. Vale a pena ler o livro novamente, pois não há leitora que não sonhe com o eterno Heathcliff...

Livros são alguns dos nossos melhores
amigos e companheiros de uma vida inteira.
Não importando o que aconteça, estão
sempre ao nosso lado. tj*¬

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Slideshow Adicional do Blog

Additional Slideshow of the Blog: 


quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Polêmico Caso das Sacolas Plásticas


Antigamente eu ia ao supermercado e, fiel às velhas “Manias de Pobre”, usava os tais saquinhos das compras para o lixo. Reciclagem. Ponto final.
Agora, seguindo a linha do “cheque nominal ao ralo”, eu tenho umas 18 sacolas retornáveis, pois quase sempre esqueço de levar as minhas. São de todas as cores e de todos os supermercados da região. Gastei um total de aproximadamente cinqüenta reais com elas. Também já comprei umas três daquelas “retornáveis para uma emergência”, bem fininhas. Rasgaram. E lá se foram um real e cinqüenta centavos para o vinagre. Se bem que estou namorando um carrinho todo “fashion”, desses que estão bombando agora, revestido de tecido e tudo mais, bem diferente do meu velho carrinho de feira. Mais trinta reais.
Além disso, compro agora três tipos de sacos de lixo: para a pia, para o banheiro e para o cesto da cozinha. Uma média de uns doze reais por mês. E eu nem havia reparado antes que existem tantos tipos de sacos de lixo. Ah, claro que gastei com vários deles primeiro fazendo testes até encontrar os tamanhos mais adequados para as minhas lixeiras e otimizar as minhas compras.
Teve também o acesso de rebeldia no meio do processo todo, quando, em mais uma das vezes em que esqueci minhas sacolas, me recusei a comprar mais uma e resolvi carregar as laranjas na mão mesmo, num daqueles saquinhos finos. Algumas rolaram pela calçada e tive de correr atrás.
Me considero uma pessoa ecologicamente correta. Procuro economizar água, energia, separo o lixo reciclável, guardo embalagens na bolsa caso não haja lixeira por perto até chegar a uma delas; também fico horrorizada com quem emporcalha a cidade, lava calçada com mangueira, polui o meio ambiente, agride a natureza com desmatamento, maltrata animais, enfim... Sou adepta da sustentabilidade e acho importantíssima a divulgação que é feita a respeito da necessidade premente de salvarmos o nosso planeta e de como isso está sendo incutido nas pessoas desde a tenra infância. Sustentabilidade tem de ser mesmo a nossa palavra de ordem. E numa época de crise mundial, tudo o que gera renda e mais empregos, como, por exemplo, a produção das sacolas retornáveis personalizadas, é excelente; inclusive, para os artesãos que confeccionam lindas ecobags. Elas são, de fato, bastante charmosas.
Na questão da eliminação das sacolas plásticas, que levam mais de cem anos para se decompor, enroscam-se em animais, contribuem para o entupimento de bueiros, etc., também sou a favor. Passei a usar as sacolas retornáveis até mesmo antes das plásticas terem sido retiradas definitivamente.
Apenas acho que, para que o esforço seja realmente válido e tudo isso faça sentido _ para que o resultado seja, de fato, benéfico para o meio ambiente _, todos os sacos de lixo comercializados têm de ser biodegradáveis... e a preços acessíveis. Senão... será o mesmo que trocar seis por meia dúzia.


P.S.: Recentemente, as sacolas voltaram a ser fornecidas aos clientes do mercado, conforme a opção ou necessidade, o que acredito que seja ideal para uma troca gradual, de modo a que todos se ajustem. Cada vez mais, o que se pode esperar é que as sacolas e materiais descartados em geral possam ser biodegradáveis.
This is an article about sustainability, and efforts made by the Brazilian government and citizens to stop using plastic bags, and to substitute them as much as possible for the called "ecobags", or returnable bags. I really hope that people and governments around the world get more and more conscious about the urgency of saving our planet for ourselves and future generations. In this article, I comment that substituting the plastic bags is a good measure, but that we must use biodegradable bags for garbage for this plan to be really effective and to make sense. Earth is so beautiful, so plentiful, and so sacred that is up to each and everyone of us to do whatever we can to make society a better place. tj*¬

Aprimorando o Uso do Idioma

Língua Portuguesa: Requisito Essencial para Todas as Profissões
Leia muito para, entre outras coisas,
 assimilar a acentuação correta e adquirir vocabulário.

Leia para os seus filhos desde bem cedo,
 ensinando-os a cultivar o saudável hábito da leitura.


      Não sou de corrigir as pessoas na fala, pois acho que isso cabe aos educadores, mas pessoas costumam me pedir para revisar textos. A nossa língua materna é uma questão complicada. Ninguém usa a maneira formal e absolutamente correta do idioma na fala do cotidiano (para não correr o risco de soar pedante) e podemos nos considerar com sorte quando escrevemos impecavelmente certo.
     Mas isso não significa que se deva descuidar do português. Não custa nada fazer uma forcinha para falar um pouco melhor. Problemas de dicção à parte, a serem arduamente resolvidos por fonoaudiólogos, porque, hoje em dia, muita gente fala para dentro... É, ou não é? "A gente" virou "aenti"; "você" é "cê, existe o "kikifoi" e por aí vai _  sem falar que o "internetês" merece um capítulo próprio.
     A questão principal é que as pessoas não se dão conta de quanto seu idioma materno é importante, não apenas em sua vida pessoal, mas principalmente na profissional, que ele é um requisito essencial para todas as profissões. Muita gente acredita que, se não é professor de português, escritor, jornalista, tradutor, não precisa falar português corretamente. Muitos agem como se o seu próprio idioma não fosse parte inerente da sua profissão e cometem infâmias linguísticas e gramaticais. Eles se esquecem de que precisam preparar relatórios, cartas, e-mails legíveis, etc., conversar, expor suas ideias em reuniões, projetos, falar claramente com clientes e por aí afora.
     O idioma materno correto é imprescindível em qualquer área (sem mencionar a necessidade cada vez maior de se falar idiomas estrangeiros). Assim, se você é um aluno que reclama que tem de estudar português, saiba que ele vai acompanhar você durante a vida toda e, quanto mais correto, melhor. Aliás, tudo que aprendemos, acabará sendo útil algum dia, de um jeito, ou de outro. Algo que ajuda imensamente é lermos muito para, entre outras coisas, assimilarmos a acentuação correta e adquirirmos vocabulário.
    O ponto crucial é que muitos profissionais se preparam exaustivamente, fazendo mil e um cursos técnicos, faculdade, pós-graduação, informática, espanhol, inglês, e não dão tanta importância ao português às vezes, o que os leva a correr o risco de cometer derrapadas medonhas.
     É claro que também falo errado no dia a dia às vezes. Como toda boa paulistana, confesso que engulo um "S" daqui e dali, trucidando ocasionalmente o plural. Escapa um "Ai, que dor nas 'costa'" de vez em quando, ou "Tira esses 'pé' daí". Ou uso o "tá", "tô", como todo mundo coloquialmente. Ninguém é de ferro (exceto o Homem de Ferro), certo? Dependendo da situação, temos de dar um desconto para uma escorregadela ou outra.
     Quando escrevo textos e na minha profissão como tradutora, porém, tenho de escrever o mais corretamente possível, sendo que o português chega a ser mais importante até do que o inglês nas traduções, pois ele é o "resultado final" do trabalho. Claro que fico com várias dúvidas e, além das pesquisas que faço, tenho instalado como companheiro inseparável o Aurélio, que considero o melhor dos dicionários de português, além dos dicionários confiáveis online.
     Agora, da mesma justa maneira que as minhas escorregadelas devem doer aos ouvidos dos outros, o que não aguento, o que dói ao primeiro acorde desafinado é o já clássico "para mim fazer" ou "para mim (acrescente um verbo qualquer no infinitivo)". Eu me retorço por dentro quando ouço uma derrapada dessas, embora dê o devido desconto quando quem fala assim é alguém que não teve acesso à instrução. Quando alguém diz “para mim fazer”, tenho de reprimir uma vontade imensa de berrar um "é para EU fazer" a plenos pulmões.
     Há certo tempo, um advogado perdeu toda a credibilidade comigo quando soltou um "para mim fazer". Estava indo bem, eloquente e tudo mais, mas depois do primeiro "para mim fazer", tudo que ouvi foi uma sequência de "para mim ir", "para mim buscar" e sei lá o que mais. Era para resolver uma coisinha corriqueira qualquer, mas não me animei a contratar os serviços dele.
     Não é uma questão de ser chata, mas acho que, se um profissional não aprendeu nem sequer o próprio idioma primeiro, não deve ter aprendido o restante tão bem assim tampouco. E os e-mails que vejo às vezes... Como uma criatura não sabe que tem de usar ponto final, vírgula e outras coisinhas básicas para ser compreendida? De pessoas instruídas, sim, de variadas profissões... Em suma, a fala e a escrita corretas, como vários outros aspectos, são partes importantes da imagem das pessoas, complementando seu “cartão de visitas”.    
     O que ajuda bastante é lermos muito para, entre outras coisas, assimilar a acentuação correta e adquirir vocabulário. O ideal é quando se lê para os os filhos desde bem cedo, ensinando-os a cultivar o saudável hábito da leitura. Uma das coisas mais gostosas da vida, sem dúvida, é ler em família e ler para uma criança.

Uma das coisas mais gostosas da vida é ler
 em família e ler para uma criança!

Passeios Imperdíveis



     Nem seria possível citar a infinidade de opções de lazer que há na cidade de São Paulo, onde moro e nasci, e arredores. O lazer é essencial em nossa vida, especialmente para os que têm rotinas atribuladas demais. É a nossa válvula de escape, o necessário alívio para o estresse. Há muita gente que não desfruta o lazer por vários motivos: falta de tempo, de dinheiro, de condições de saúde, excesso de preocupações, preguiça assumida, etc. Mas o fato é que o lazer em si é uma forma de saúde mental. Quando passeamos, nos desligamos das preocupações, ao menos por algumas horas, e recobramos o fôlego para enfrentar quaisquer que sejam os problemas que têm nos impedido de passear. Você já voltou para casa com aquela sensação de bem-estar depois de um passeio, relembrando vários momentos, pensando em como aquelas horas de descontração foram revigorantes? Eu já. Sempre que vou a um lugar de que gosto. As famosas endorfinas.
     Existem milhares de outras opções, além das viagens propriamente ditas a lugares mais distantes, claro. Mas nada como um bate e volta até a praia (sem aquele congestionamento infernal), uma visita ao Instituto Butantan, que além dos exemplares das cobras e do museu, tem uma área gramada ampla. E os parques... há vários deles. E você nem precisa gastar. É só levar tudo para um piquenique. Mas nada de cometer um dos pecados capitais urbanos: deixar lixo espalhado por aí.
     Há inúmeros outros lugares com entrada gratuita, como, por exemplo, o Templo Zulai, que além do deslumbrante templo em si, dispõe de uma imensa área verde. Quando você chega e depara com aquela arquitetura maravilhosa, se sente verdadeiramente na China. Fazendo a sua visita com a devida reverência, você tem a chance de conhecer melhor o budismo, ver peças lindas no museu, comprar objetos interessantes na lojinha, deixar as crianças curtirem o pequeno playground. Poderá almoçar no restaurante vegetariano, comendo à vontade por um preço bem acessível, ou ainda provar algo na lanchonete, se preferir, ou até levar seu lanchinho para saborear no imenso campo detrás.
     O mesmo princípio se aplica à maioria dos lugares ao ar livre. Você pode curti-los segundo suas condições do momento. No Museu do Ipiranga (ou Museu Paulista), por exemplo, há uma agradável área com mesas e jardins para piqueniques atrás do prédio principal. O ingresso para a visita ao museu é barato e você faz realmente uma viagem no tempo. É maravilhoso admirar todo aquele acervo inestimável.
     A área para a garotada no Parque da Independência também é imensa. Quando fui, o ingresso do museu ainda dava direito a uma visita ao Museu de Zoologia da USP, logo ao lado, onde há uma vasta exposição de animais embalsamados da fauna tropical. É uma ótima pedida para adultos e crianças, principalmente as pequenas que ainda não têm paciência para admirar com calma os talheres imperiais. Outro lugar imperdível é o zoológico. Quantas fotos não temos daqueles elefantes e girafas incríveis! É um dos meus passeios favoritos. E, como em qualquer passeio, para desfrutá-lo ao máximo, você só tem de montar a sua estratégia para aproveitar os dias e horários menos concorridos.
     Ah, e os parques temáticos... São uma delícia! Outra coisa que adoro, obviamente, é o shopping. É o “tudo em um” perfeito em meio ao caos da cidade grande hoje em dia. É bom demais ir ao cinema, visitar uma livraria, fazer uma comprinha ou outra e relaxar na praça de alimentação. Quem não gosta?
     As cidades do interior, então, são ótimas para se visitar. Já pegou um trem quase sem destino e se aventurou por alguma cidade nova? Vale a pena. As pessoas são acolhedoras, tudo é perto, há a chance de um contato mais próximo com a natureza, pois muitas cidadezinhas ainda são atravessadas por rios limpos e cercadas de bosques, e os preços da comida e dos suvenires típicos são acessíveis.
     Para descobrir tudo o que há para se ver ou fazer na cidade e imediações, basta pesquisar _ teatros, restaurantes, demais museus (como o criativo Museu da Língua Portuguesa), feiras, bairros interessantes como o da Liberdade, parques, pousadas, casas de shows, livrarias, locais históricos, etc.

     Afinal, há coisa melhor do que passear e espairecer?

Agora que Isso Já Passou!




6 de janeiro de 2012; sexta-feira. Chegada ao hospital por volta das dez horas da manhã. Tudo o que mais desejei naquele momento, com todo o fervor, foi ver o taxista que nos levaria de volta para casa no domingo.
 Subimos até o andar da recepção e olhei, apreensiva, ao redor, até ir sentar na sala de espera. De fato, como o meu atencioso médico havia me dito, o hospital parecia um hotel, sem pronto-socorro, tudo tranquilo. Quando sentei para aguardar, fingi que estava numa empresa, esperando para fazer uma entrevista de emprego. (Assim, se você estiver numa empresa, esperando para fazer uma entrevista de emprego, faça de conta que está num hospital esperando para ser operado _ seu nervosismo passará rapidinho.)

Seguindo os trâmites, fomos encaminhados ao quarto e, como a cirurgia estava marcada apenas para as três da tarde, tentei me distrair como podia. Não sei o porquê, faltando tanto tempo, mas já fui colocando logo aquele avental de hospital e a touca. Como não gosto de ar condicionado, abri todas as persianas e janelas para driblar o calor, mas deu uma trabalheira danada ficar arrumando o avental para não ficar com o bumbum de fora.

 Aquele era um terceiro andar que parecia vigésimo, devido à arquitetura do prédio. Com os meus dois medos travando uma batalha, acho que consegui vencer o de altura. Nem liguei para aquela vista vertiginosa das janelas. “O que de pior poderia me acontecer?”, ponderei. “Cair lá em baixo e vir parar num hospital?”
As horas foram se arrastando. Só de pensar que eu não podia beber água, já me sentia como se estivesse há três dias num deserto escaldante.

  No dia anterior, quando o médico avisou que eu não poderia beber água a partir das cinco da manhã do dia da operação, já me senti instantaneamente desidratada. Fui bebendo água desde o consultório até em casa. Acho que nunca bebi tanta água na vida como naquela véspera. (É, temos que dar mais valor às coisas mais simples e preciosas da vida...) Admito que fome eu não sentia... provavelmente por causa do medo e da ansiedade. Tive permissão de fazer o desjejum às cinco da manhã, escovar os dentes e não ingerir absolutamente mais nada. Pensei com os meus botões: “Como, cargas d’água, vou ter apetite às cinco da manhã?” 

Coloquei o despertador para antes das cinco, fiz o café e, depois da minha xicarazinha sagrada de café quente puro, parti para o desjejum _ café com leite, pão com manteiga, meio mamão, uma banana com aveia e um iogurte, arrematando tudo com mais uma xicarazinha de café puro. Embora eu jamais tenha comido tanto logo cedo, felizmente, tenho estômago de ferro.
Olhei para o meu relógio no quarto do hospital. Onze horas; onze e um... onze e dois... E, assim, aquela parte do dia continuou se arrastando. Não conseguia prestar atenção na tevê, nem ler as toneladas de livros e revistas que levei, nem dormir...

 Eu estava caindo de sono, pescando mesmo, mas não queria dormir para não ficar “acordada” demais mais tarde; queria guardar o sono para o
    “durante e depois” da operação.
 Sabia que seria sedada, mas não custa prevenir.
Tapando o bumbum daqui e dali com o avental (a essa hora eu já havia concluído que podia tirar a touca), fiquei zanzando pelo quarto, até que resolvi usar o laptop.  
De repente, a internet havia perdido todo o encanto; não tive vontade de entrar no Twitter, no Facebook e, horror dos horrores, nem no adorado Google.

 Daí entrei no meu blog, tentando encontrar conforto nas minhas próprias palavras. “Faça muitas vezes uma mesma coisa e ela deixará de intimidar você”. Fácil falar, né? Como fazer muitas vezes a mesma coisa naquela situação, operando cem vezes? Nem pensar... No caso, acho que se aplica mais: “Medo tolo para um, tirano da vida de outro”. Resolvi ler a parte inteira de “Versos Bíblicos Favoritos” e, não é por falar, não, mas me ajudou bastante.
Pena que não pensei na hora em recordar
tudo o que já aprendi no Tai Chi Chuan, a
arte marcial perfeita para "pilhas de nervos"
ambulantes como eu, mas, com certeza, ou de
um jeito, ou de outro, o Tai Chi acabou me
ajudando, sim.
Hora de almoço, enfim, mas eu não podia comer... e nem precisava. Sede, sede e mais sede... (Ai, estou bebendo uma garrafinha de água agora mesmo enquanto digito meu relato). Mais sede... zanzando de volta pelo quarto. Daí o celular tocou. “Ah, uma bem-vinda distração!”, pensei. Alguém querendo me encorajar, me acalmar com palavras amigas reconfortantes.
Não, o banco avisando para cobrir um depósito qualquer. Bem, ao menos algo para ocupar o tempo. É tudo que você precisa para desviar a atenção de uma preocupação... outra preocupação. E nada como a tecnologia a nosso favor.

 Depois de uns telefonemas e uns e-mails (e uns impropérios), tudo resolvido. 

Obrigada ao banco que me ligou num momento tão marcante. Jamais esquecerei.
Uma e dez. "Jornal Hoje"... Sandrinha e Evaristo para dar algum consolo nessa hora. Duas; duas e cinco; “pescar”, colocar touca de volta... Rezar, rezar e rezar ainda mais para Deus, Jesus, tudo que é santo e, em especial para Nossa Senhora e São Miguel Arcanjo, que me protegeram tanto.

 O fato é o seguinte. Quando aquela enfermeira gentil veio me buscar às três da tarde, eu me senti sendo levada para a cadeira elétrica. Devo ter praticamente arrastado o meu anjo da guarda junto. Lá foi a minha cama de rodinhas sendo empurrada por aquele corredor interminável, estreito, as luzes brilhando acima. Os esbarrões clássicos daqui e dali, elevador, lágrimas escorrendo copiosamente pelo meu rosto. É... já não deu para segurar mais. Palavras de conforto e encorajamento de enfermeiras tão carinhosas e do meu marido, as quais vou guardar para sempre.
Mas não adianta. Achei que paguei todos os meus pecados naqueles momentos. O medo é irracional e, no final das contas, só nos faz perder tempo. Eu já estava na sala de preparação, chorando baixinho e engolindo em seco, grudada feito um gato nas grades de ferro da cama. “Acho que vou ter um ataque histérico”, pensei. 

 Acho que vou me grudar ainda mais nesta 
cama e berrar para dizer que não 
quero mais! Mas respirei fundo, rezei mais um pouco e me mantive o mais firme que uma gelatina consegue. Era um centro cirúrgico enorme, de um hospital renomado, com equipe e cirurgião competentes já sabendo dos meus chiliques e tendo tomado todas as providências para que eu me acalmasse e tudo transcorresse o mais tranquilamente possível. Claro que, para os especialistas, essa é a coisa mais natural do mundo. 
 quanto conduziam minha maca pelo centro cirúrgico, vi uma porta entreaberta e um paciente sendo inclinado para a frente numa mesa, na preparação para ser anestesiado. Gelei por inteiro. Prossegui e fui transferida para a mesa de operações da minha respectiva sala cirúrgica. Sem água, não sei de onde tirei tantas lágrimas. Uma senhora de carinhosos olhos azuis parou ao meu lado na mesa e me tranquilizou. Era uma das médicas da equipe, mas preferi pensar que fosse um anjo.
Agora... aqui neste ponto tenho de fazer um pequeno aparte. O que eu mais queria era dormir logo e acordar no quarto quando tudo estivesse concluído bem, como eu havia rezado para que fosse. Mas ainda enfrentei aquela que, no fim das contas, acabou sendo a parte mais dolorida de todas. Levei duas espetadas dos diabos na mão esquerda... oh, dor maldita! Mas... tudo numa boa... Foi para injetarem o sedativo e sei lá mais o que para eu dormir... nem sequer tive de passar pelo meu pavor de testemunhar a aplicação da raque.
Finalmente, acordei. Olhei para cima e vi uma luz brilhante. Pai Eterno, eu havia suplicado para não ter uma EQM...  
 Não era... ufa! Diante de mim, estava a temível cortininha, e havia uma serena movimentação do outro lado; a operação transcorria normalmente, e eu não sentia nada graças à anestesia. Provavelmente nesse instante tornaram a ajustar a dose do sedativo, conforme a necessidade. Tudo isso durou uma fração de segundo para mim.

 Fechei os olhos e quando tornei a abri-los, já estava na sala de recuperação da anestesia, começando a mexer as pernas novamente. A operação foi um sucesso, me recuperei muito bem e deixo aqui meus sinceros agradecimentos à atenciosa equipe e ao cirurgião. Fui super-paparicada durante três dias no hospital, aproveitei para pôr o sono em dia, recebi imenso carinho da família e dos amigos. E quer saber... que hospital que nada! A essa altura, eu já estava me sentindo num hotel!

     
Também não estou chateada por ter precisado fazer uma histerectomia, pois o útero já havia cumprido seu papel.  Se você também fez uma histerectomia como eu e não deseja mais filhos, nada de tristeza e nem de ficar "sentindo um vazio por dentro" (como muita gente diz _ embora eu respeite os sentimentos dos outros, claro). Agora que resolvi esse problema, me sinto mais cheia de vida, mais disposta, mais animada, mais saudável, mais feminina e com mais vontade ainda de continuar cuidando bem da minha saúde física, mental e espiritual... e de quem mais eu puder ajudar em situações semelhantes.
Faz um tempo que fui operada, mas não pude deixar de refletir bastante a respeito da vida em geral. Como sempre exagerada, eu estava dramatizando demais uma coisa que poderia ter sido bem mais simples. Não havia razão para tanto medo.
Passei a dar ainda mais valor a tudo, renovei a vontade de fazer tudo que ainda não tive chance de fazer... uma tatuagem de anjo, aquela viagem, um projeto esquecido na gaveta... enfim, de ir cumprindo uma missão atrás da outra na vida e de aproveitar bem cada momento.
E, mesmo quando há razão para ter medo, o que prevalece é a fé. A fé, o amor e tantos sentimentos bons que temos são capazes de vencer quaisquer obstáculos. Se acredito que há um destino traçado para nós? Acredito e que, de um jeito ou de outro, tudo acaba nos levando a ele, especialmente quando é bom. Mas acredito também que, ao mesmo tempo, somos donos do nosso destino, temos o livre arbítrio e temos a fé que certamente é capaz de milagres, como inúmeros que vemos, ouvimos ou nem sequer imaginamos que acontecem à nossa volta. Deus olha por nós e não nos esquece jamais, mesmo quando às vezes esmorecemos, e, em sua sabedoria, deseja a nossa felicidade.

Moral da história: se você consegue superar o seu maior medo (mesmo que a duras penas), todos os outros medos serão bem mais fáceis de dominar. E quanto mais medos você supera, mais você vai aprendendo e se fortalecendo, evoluindo como pessoa e lapidando a sua alma.





 Fonte de todas essas fotos de gatos fofos que adoro:
 imagens de domínio público da internet.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Comic Cards

Hey, bookworm! It's your last chance to give me back my book!

     We all like to see funny images on the social networks, among other places. They make us laugh and relax. Sense of humor is essential in life, and I enjoy writing texts with a funny streak, and I let my comic side come through whenever I have the chance.
     With images of internet public domain, I create cards like this one below that I call “Comic Cards” as a hobby, just for fun. They are great for Twitter, facebook and give a relaxed touch to a blog. I’ve got ideas for them from images I see, or some phrase pops in my mind, and then, I look for an image that fits. They’re simple phrases that come from the daily life subjects, nothing too much elaborated and with a light sense of humor.

Don't you even think of taking my book away from me!

If you’d like, visit Aprendizes de Escritores/Writers’ Apprentices Blog additional page to see more comic cards like these ones, at the following link (in English/Portuguese):
Se desejar, visite a página adicional do Blog Aprendizes de Escritores para ver mais cartões cômicos como estes (em português/inglês), neste seguinte e o texto também em português.

I'm too sexy for my armour...

2012 - Fim dos Tempos?

     Em termos de estilo, podemos “brincar” com o nosso idioma dentro de um contexto em que a licença poética seja permitida, desde que fique claro que este não está seguindo a norma culta e que, portanto, tais “transgressões” não devem ser imitadas e/ou adotadas erroneamente em outro contexto. É o que acontece nos gibis ou em outros tipos de texto em que é reproduzida a fala coloquial, regional, ou com certas expressões idiomáticas e gírias. Foi mais ou menos o que fiz aqui, no intuito de criar um texto mais leve e descontraído.


     Certo dia, numa data não muito precisa, dois dos extraterrestres que davam "suporte técnico" aos maias, Shuruh e Byzun, estavam jogando conversa fora. 

B _ E aí, Shuruh, beleza?
S _ Tudo na moral, Byzun!
B _ Eu tava pensando... A gente já tá aqui de bobeira há um tempão.
S _ Fazer o quê, né? Ordens lá da chefia de TI.
B _ Ah, mas isto aqui tá um marasmo, cara. Eu tava a fim de curtir uns lances mais maneiros do que ficar aí, ensinando essas paradas de agricultura, cálculos, para esse povo. Maior chatice. O que é que tu acha, Shuruh?
S _ Não dá com a língua nos dentes não, mas tá um porre mesmo...
B _ E se a gente fizesse alguma coisa... Tipo assim... Sei lá. Mais agitada?
S _ Os caras vão falar para a gente que a galáxia, o Universo são bem grandinhos, valeu? Não estão satisfeitos, procurem outra coisa.
B _ Mas já tá dando pra trás antes da gente pensar num lance qualquer, Shu? Se liga! Tuas férias tão vencidas e tudo. Do jeito que a coisa tá corrida aqui, a chefia não vai te dar folga tão cedo, não...
S _ E você acha que trabalho aqui porque eu gosto, mané? Este negócio de suporte técnico a terráqueo é um porre, meu. E, depois, a patroa vive estourando o limite do cartão de crédito.
B _ É, ninguém merece, Shuruh... Aqueles juros do inferno, de meter medo até no Darth Vader, a gente se matando de trabalhar que nem doido para elas ficarem batendo perna pelo Universo inteiro, só gastando... Ainda se levassem a minha sogra junto para passear perto do Buraco Negro... Vai que a "véia" escorrega lá para dentro...
S _ Podes crer... Ei, tive uma ideia, Byzun! E se a gente acabasse com a Terra de uma vez por todas?
B _ Ah, também não exagera, vai! Isto aqui pode não ser maneiro, mas eu preciso deste emprego. Vou fazer o que depois?
S _ É... a coisa tá braba. Para conseguir um trabalho naquelas empresas intergalácticas não tá mole, não. Exigem um monte de coisas que acabam não usando, pagam pouco e, no fim, colocam lá o mané do filho do dono, ou uma “vadiete” qualquer...
B _ Maior roubada... Quer saber, Shu? Dá vontade de acabar com este planetinha aqui só de pirraça, tá ligado?
S _ Talvez não fosse se perder muita coisa. Pelo que ando vendo na tela do futuro, o povo daqui nunca aprende mesmo. É brabeza... E viu as espadonas e machados que eles andaram sentando na cabeça uns dos outros nas guerras do passado, né? Coisa tosca. Agora, no futuro ainda vão cometer muitos absurdos, infelizmente...
B _ Dá até arrepio. Sou contra a violência. Uma imbecilidade as tais guerras. Se bem que, se eles tivessem fulminado a laser, teria sido mais prático, sem aquela eca toda, não? Agora, fica de bobeira que esses maias aí ainda vão te pegar. Você viu que medonho essa coisa de sacrifícios? Se bem que os astecas pegam bem mais pesado...
S _ Isola, Byzun! Não tá vendo que eles adoram a gente, literalmente. É tipo assim... um lance de superstar intergaláctico... Tô dando autógrafo e tudo! Irado.
B _ Só aqui mesmo... Mas voltando àquela parada, acho que seria mais fácil para nós acabar com este planeta, né, não? O planeta em si até que dá para o gasto, mas já estou cheio dessa vibe ruim toda.
S _ É, seria, mas tô sem tempo, cara. Vou ter que esperar até me aposentar.
B _ Como assim, criatura? Vamos ter que esperar tudo isso aqui? Já não tá dando... E foi você que deu a ideia, lembra?
S _ Sossega o facho, Byzun. Ouvi dizer que a gente não vai ficar aqui muito tempo mesmo. É só para ensinar o básico aí para o povo, valeu?
B _ Será...? Os caras só prometem, prometem e a gente aqui se ferrando, com esse salário chinfrim. Dá a maior deprê, tá ligado?
S _ Vê se você topa este lance, Byzun. A gente pode acabar com este mundo, tipo... Mais para a frente. Afinal, sabe como é... A gente ensina o serviço direitinho, depois vêm outros e dão aquele pé na bunda da gente de qualquer jeito... É sempre assim.
B _ É, pega geral. Deixa eu ver uma coisa aqui na minha agenda holográfica... E se a gente acabasse com o mundo bem mais no futuro... Tipo em... 1843?
S _ Hummm... Deixa eu ver. Não vai dar, não. Vou estar superocupado nessa época. Vou ter uns cursos de reciclagem, palestras em Alfa Centauro; maior chatice. Que tal em... Deixa eu ver... Acho que dá, sim... Tipo em... 2012?
B _ Taí, Shuruh. Gostei; número redondinho. É só escolher o dia e a hora.
S _ É melhor mesmo. Vai saber o que ainda podem inventar para a gente fazer aqui... Só falta pedirem para a gente ficar abduzindo o povo aí, para baixo e para cima.
B _ Nem me fale. Aquelas paradas lá das pirâmides do Egito já deram o maior trabalho.
S _ Brabeza... Aquele pessoal de TI acha que a gente é babá de terráqueo. Fala sério!
B _ A gente acaba com esta pocilga e pronto. Deixa eu ver... É... Pode ser em 2012 mesmo. Deixa ver a que horas... Resolvido. É só falar para os maias marcarem lá naquele lance de calendário deles para o povo ir ficando esperto...
S _ Mas espera aí, Byzun. Só agora é que percebi. Nesse dia e horário vai ter um problema de logística.
B _ Ei, Shuruh. Lá vem você embaçando agora. É por isso que não sai dessa, cara! E depois quer ser promovido...
S _ Ei, fica de boa. Que neura! Só tô tentando achar um jeito, valeu? Mas nesse dia e horário de 2012 não vai dar. Melhor não... Aliás, não dá para marcar uma data exata... Nunca!
B _ Por que não, cara? Como assim?
S _ Saca só, seu sem noção. Tem umas paradas complicadas aqui. Como é que a gente acaba com o mundo numa data marcada? Começa por onde, pela Austrália? Pelo Japão? Pelo Brasil?
B _ Não tinha pensando nisso... Se a gente marca... tipo... “acabar com o planeta Terra no dia tal, às 12:00 h em ponto”, certo? Quando a galera das Américas vir que o mundo já acabou lá na Austrália, isso vai estragar o climão, né, não, cara?
S _ Lógico, mané. Não dá. Desencana. Tem esse problema de fuso horário. Sem falar no tal horário de verão. Aí acabo tendo que fazer hora extra...
B _ Hora extra! Como assim? Eles nem pagam; vêm com esse papo de banco de horas... Mas você falou que já ia estar aposentado.
S _ Com essa merreca que eles pagam? Vou ter que continuar trabalhando depois de aposentado e tudo. Ainda mais a gente, que vive milênios... Mas quer saber, já me enchi desse papo, Byzun. Não vai dar para acabar com a Terra em 2012, não.
B _ É, falou. Muita mão de obra para exterminar um planeta. É que nem reforma... Só que ao contrário, ah, ah... A gente sempre acaba gastando mais do que o orçamento.
S _ É... eu só tava viajando um pouco, Byzun. Saudade lá da tchurma; sabe como é. É... Esquece esse papo de acabar com a Terra.
B _ Beleza. Deixe que os terráqueos se entendam entre eles mesmos. Eles se merecem, afinal. Agora, “bora lá” para o batente que ainda temos uma porção de coisas para ensinar para esses maias.
S _ Pelo menos, a galera maia vai preparar um churrasquinho maneiro pra gente curtir mais tarde em volta da fogueira, Byzun.
B _ De origem animal, eu espero, Shuruh. Me amarro nessas comidas da hora que os terráqueos inventam.
S _ Eu também. Espere só até eles inventarem a pizza. E refri.
B _ Ou aqueles sorvetes todos... É, pensando bem, até que a Terra tem umas coisas interessantes.
S _ É verdade. Bem, bora lá!

2011 - No Mundo da Lua!


    
       Tenho uma amiga desde a adolescência que sempre se divertiu com o meu jeito, digamos, um tanto distraído. Recentemente, enviei uma mensagem a ela para contar um dos meus últimos "foras". E foi o seguinte:
"Marie, me esqueci de te contar esta:
     Num dia desses, desci do elevador. Logo olhei para a parede do corredor e pensei: Cadê o meu quadro de flores? O capacho também não estava na frente da minha porta. Pensei: “Será que o funcionário da limpeza o pegou para lavar, apesar de nunca fazer isso?” Enfim, senti falta do meu enfeite de sininhos com golfinhos na porta. Só, então, olhei para o número do apartamento (já com a chave na mão, prestes a colocá-la na fechadura).
     Eu tinha descido num andar acima do meu!
     Acontece que nós, intelectuais (Ah, ah!), não somos destrambelhados. Apenas costumamos estar com a mente em outro lugar... No mundo da lua!
Neste mundo “multitarefas" em que vivemos _ sendo que o certo seria fazermos uma coisa de cada vez _, acabei me tornando uma pessoa distraída no dia a dia. Ou talvez seja mesmo algo da minha natureza, não sei. No trabalho ou em questões mais sérias, compenso isso me empenhando para ter atenção redobrada no que faço. Agora, no cotidiano, é fato que, me juntando a todos, não me resta escolha, a não ser rir de mim mesma. Minha distração me leva a incontáveis micos, desde como vivo tentando entrar no carro errado na saída de algum lugar (Para mim, todos os carros prateados são praticamente iguais.) até como saí na rua um dia desses, sem perceber, com um brinco totalmente diferente do outro em cada orelha ou, ainda, num outro dia, quando tranquei a chave dentro do armário do vestiário e tive de chamar uma funcionária do lugar para arrebentar o cadeado com um baita alicate.
     Uma vez, quando ainda trabalhava como secretária numa empresa de engenharia, era véspera de feriadão _ uma quinta-feira _ e, depois do expediente, eu não teria aula na faculdade naquela noite. Assim, lá subi eu o quilômetro de sempre até o ponto, peguei minhas três conduções (ônibus/metrô/ônibus) e cheguei alegre e saltitante em casa, pronta para curtir a folga prolongada. Foi, então, naquele segundo, quando mal havia entrado em casa que me ocorreu: "Ai, esqueci o ventilador da firma ligado!"
     Pronto, foi quanto bastou para que meu feriadão fosse por água abaixo. Fiquei lá, me torturando, refazendo cada passo mentalmente, tentando lembrar se havia desligado o ventilador, mas nada. Havia um branco total na memória; em relação a apena isso, claro. Até de todas as músicas que eu tinha ouvido no meu inseparável walkman vermelho eu lembrava! "Vou ter que voltar lá!", pensei desanimada, imaginando a longa jornada de volta de cerca de uma hora e meia, ou a firma pegando fogo devido a algum curto causado pelo ventilador ligado.
     Só então tive a ideia óbvia. Liguei para um colega que morava mais perto da empresa, talvez a uns vinte minutos de lá. Ele se prontificou a ir checar para mim e teve de correr o risco de ser preso entrando pela janela, pois não havia mais vivalma na firma. E voilà! Quando ele entrou para verificar, o ventilador estava... desligado, no final das contas. Desde aquele dia, costumo checar se o gás está desligado umas duas vezes antes de ir dormir. Está longe de ser TOC. Simplesmente não tenho tempo para ter TOC, embora me compadeça muito de quem sofre desse mal. É algo terrível, pelo que se observa, mas tem tratamento, claro.
     Outra coisa que minha amiga adora relembrar é uma vez em que, seguindo ao encontro dela no ponto de ônibus para a ida à faculdade, contornei um carro atravessado na calçada sem notar que ele tinha batido na banca de jornal próxima e a arrastado junto (sem ninguém dentro, soube depois). É a velha distração.
     Já saí para a rua com uma toalha molhada de banho dependurada no braço... Só até a calçada. Pego o carrinho de compras dos outros em vez do meu no corredor do supermercado; troco nomes vez ou outra; pego ônibus errado ou desço fora do ponto; não noto absolutamente nenhuma diferença na mudança de decoração dos outros... essas coisas. Já me disseram que eu deveria caminhar com um GPS pela rua...
     Tenho outra amiga no meu grupo de e-mails para quem vivia repassando mensagens havia um bom tempo. Aqueles e-mails de antes da febre do facebook, com mensagens do tipo "Dicas para o seu bem-estar"; "Veja que imagens lindas!"; "Jesus te ama", “Repasse para 20 amigos, se não...” e por aí vai. Só que havia umas mensagens meigas que nós, garotas, costumávamos passar só para as mulheres do grupo, como "Amigas para sempre", "Adoro você, amiga", "Repasse este e-mail só para as amigas do peito" e, claro, aqueles e-mails com "saradões" que diziam "Vejam que pedaço de mau caminho", "Oh, homem danado de lindo", "Mama mia, esses são de tirar o fôlego". Vestidos, claro! Bom, sem camisa... né? Enfim, vocês sabem, meninas, aqueles e-mails inocentes, mas de encher os olhos, cheios de "pedaçudos*", só para admirar. Aconteceu, então, que, de repente, tive de mandar um e-mail confidencial, com um assunto muito sério, que era para ser conversado apenas entre nós duas e, claro, pedi absoluto sigilo a ela. Minha amiga me mandou um e-mail em resposta logo depois me dizendo que aquele endereço de e-mail que eu estava usando havia tempo era do marido dela!
     Ah, lembro também de uma vez em que fiz um importante ultrassom no laboratório errado, exatamente no mesmo prédio do laboratório em que o meu exame estava marcado. Lembro de outra vez, quando secretária, que simplesmente recebi um cliente da empresa, todo formal, que havia chegado para uma reunião com o diretor, com nada menos que dois beijinhos no rosto, sendo que deveria ter apenas trocado um aperto de mão com ele e olhe lá! Gelei na hora, percebendo o que havia feito, com a cabeça de vento sabe-se lá onde, mas tive que fingir indiferença, né?
     Num dia desses, numa fila para tirar fotos com famosos, falei a um jornalista ilustre que não queria tirar uma foto com ele, porque deu um "branco" qualquer na hora. Daí, o chamei, mas ele foi embora aborrecido... Certa vez, eu estava caminhando pela rua quando vi, pelo canto do olho, algumas moças sentadas na calçada. Uma delas falou algo comigo. Então, respondi gentilmente:
_ Desculpe, bem, mas estou sem trocado hoje.
Ela me disse:
_ Não, não, eu só perguntei que horas são!
     Houve aquelas vezes em que falei (não tão mal assim) de alguém e a pessoa estava bem atrás de mim, em que já troquei o açúcar pelo sal, já tentei remover esmalte de unha com o frasco de água oxigenada, comecei a escovar os dentes com pomada... Essas são clássicas, claro.
     Tudo isso é verdade, mas, exageros e brincadeiras à parte, há uns dois ou três anos, entrei num curso de Tai Chi Chuan. Entre todas as outras coisas excelentes, o Tai Chi tem me ensinado a correr menos, a ser mais calma e paciente, a parar para observar o mundo, e eu tenho aprendido a observar... a observar tudo que realmente importa. Mas isso já é uma outra história...

* Pedaçudo: Aproveito o ensejo para esclarecer uma pergunta que me fazem. O que vem a ser "pedaçudo"? Simples, na conotação acima, pedaçudo é gostoso. Geralmente, uma coisa boa fica melhor ainda quando tem pedaços de alguma outra coisa boa. Sorvete com pedaços de chocolate. Iogurte com pedaços de frutas. Barra de chocolate com pedaços de castanhas. Bolo de fubá com pedaços de goiabada. Enfim... acho que deu para entender. Pedaçudo: gostoso. Adoro a maneira como podemos brincar com as palavras, expressões e neologismos do nosso idioma. Aliás, acho que temos um idioma, digamos assim... pedaçudo!