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Sou Tradutora (inglês/português) profissional, formada em Letras-Tradução pela Universidade Anhembi-Morumbi, atuando há mais de 20 anos no campo técnico e especialmente literário. Traduzi mais de 190 livros até o presente, entre romances, livros de negócios, de autoajuda, biografias, guias, trabalhando como freelancer para editoras renomadas. Também escrevo artigos, crônicas, textos em geral, e acabo de publicar o “Meu Próprio Livro”. I'm a professional Translator (English/Portuguese), with a Letters/Translation degree. I've been working for more than 20 years in the area, with technical and especially literary translation. I’ve translated more than 190 books up to now, among novels, business books, biographies, self-help books, guides, working as a freelancer for renowned publishers. I also write articles, chronicles, general texts, and I’ve just published my own book, called “Meu Próprio Livro”.

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Onde quer que você esteja, sinta-se em casa aqui!
Wherever you are, feel at home here.
Donde quiera que estés, te sientas en casa acá.

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São inúmeros aqueles que não são mais escritores aprendizes, mas todos somos aprendizes de escritores para sempre...
There are countless ones who are no longer apprentice writers, but we are all writers' apprentices forever...

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Política da Boa Vizinhança

       PARTE I

     Por longos anos, morei no lugar onde Judas se perdeu, porque as botas ele já havia perdido bem antes de lá. Sei que existem lugares muito piores do que aquele; lamentavelmente todos já vimos seres humanos sendo submetidos a condições que de humanas não têm nada. Mas esse lugar acabou se tornando um dos piores de toda a galáxia para mim.
     Não faltam aqui personagens para esta história verídica, mas os principais são Diabinho, o cachorro da vizinha (nome trocado por questões éticas) e a própria vizinha. Felizmente, isso já faz um longo tempo e esqueci o nome da vizinha, mas o apelido carinhoso que eu usava para pensar nela _  e que empregarei no meu desolador relato _  é "Baranga" mesmo.
     Antes de chegarmos à parte de Diabinho e Baranga, que foram a gota d'água para me deixar com os nervos em frangalhos, quero dar um panorama geral do medonho cenário, de sua contribuição para quase me enlouquecer.
  A minha rua era sem saída. Ainda não sei onde ficava a colmeia, mas de uma coisa tenho certeza, a minha porta tinha mel. Num infeliz projeto de arquitetura, a minha casa tinha uns dez metros de frente por dez de lado; ou seja, um quadrado com bastante espaço para ser importunado na frente e sem nenhuma área de escape atrás. Até que a gente tinha uns vidros antirruído nas janelas... que de quase nada adiantavam, especialmente no calor.
     A molecada da rua inteira _ e das outras ruas _ resolvia empinar pipa bem na minha porta. A linha vivia enroscando na minha antena, as pipas caíam no quintal e, além de ter de interromper o trabalho a toda hora, havia um barulho infernal na calçada. Cheguei a um ponto tal de irritação que torcia para eles perderem as pipas. Mas eles apareciam minutos depois com outra pipa comprada na esquina por cinquenta centavos. Era uma das coisas que mais me deixavam inconformada.

     Por que as criaturas faziam tanto estardalhaço, subiam em muros e lajes, arriscando o pescoço, com o perigo de serem eletrocutadas na rede elétrica, se engalfinhando por causa de uma mísera pipa de cinquenta centavos? Aliás, tinha o tal do maldito cerol que cortava a minha mão às vezes. Garotada, nada de cerol. Todo mundo sabe que motoqueiros acabaram morrendo de maneira absurda com o pescoço cortado por uma linha com cerol. Assim, não custa nada procurarem lugares bem amplos e seguros para empinar pipa sem cerol, certo? Nada contra, desde que seja a quilômetros de distância de mim.
     Além dessa balbúrdia na porta, havia ELE... o piolho ruivo. Piolho era como eu chamava carinhosamente cada integrante da molecada em geral. O piolho ruivo tinha uma "banda" e tocava bateria duas casas depois da minha, na garagem aberta da frente, praticamente na calçada. Ele e sua banda eram desafinados como taquaras rachadas e eu, que adoro rock, peguei ódio de rock naqueles dias, daquele "rock". Eles tocavam quase todos os dias, especialmente nas tardes e noites de sábado e domingo, para desespero da vizinhança.
     Não adiantavam apelos dos mais dramáticos para que eles maneirassem, pois o piolho ruivo e sua gangue tripudiavam, faziam ainda pior, transformando nossos ouvidos em penico, cada vez adquirindo aparelhos e instrumentos mais potentes. Era dito e feito. Eu estava lá trabalhando, ou tentando descansar num sábado ou domingo e, de repente, ouvia... "Som, som..." Era o bastante para o coração disparar, a pressão subir, a tremedeira percorrer o corpo.
    A gente vivia saindo de casa para fugir do inferno quando possível, mas era inevitável chegar e os piolhos ainda estarem lá "tocando" e "cantando" no último volume. Sabem aquele barulho terrível? Esse mesmo. Bem, aguentei alguns anos até que, por vários fatores, acabamos mudando. Meu consolo é que o piolho ruivo, que eu saiba, não gravou nenhum CD até hoje, nem fez o menor sucesso. Não, eu não era vizinha do Simply Red. Garotada, querem ter banda de garagem e tudo mais? Ok, numa boa, mas forrem todas as paredes para o barulho não escapar, ou façam uma vaquinha e aluguem um lugar adequado. O piolho ruivo? Bem, ele mudou de cidade e sua banda se desfez cerca de uns dois meses depois que eu mudei de bairro.

 PARTE II
     Agora, claro, vamos ao nosso protagonista, Diabinho. Não sei o que era pior, a molecada com as pipas, a bateria ou o Diabinho, porém _ mais um consolo _ um, com certeza, infernizava o outro. Provavelmente, Baranga tomava algum calmante para não ouvir a bateria porque ela largava Diabinho no seu quintal de cinco metros de frente por dois e meio de lado (em vez de colocá-lo no seu imeeeeeenso quintal dos fundos), onde o bicho se esgoelava de tanto latir e ela não fazia nada. Diabinho latia dia e noite na casa ao lado como se estivesse com o diabo no corpo.
     Telefonamos (anonimamente, pois Baranga era ignorante e, com ela, "não tinha conversa"), reclamamos dos latidos estridentes e incessantes, falamos das noites de insônia até o despertador tocar às cinco e meia, mentimos alegando doença na família, imploramos... mas nada. Impassível, Baranga ia dormir no seu quarto nos fundos da casa, embalada talvez por seu calmante, e deixava Diabinho se esgoelando no quintalzinho da frente.
     No inverno, umas três células minhas quaisquer se compadeciam de Diabinho, espremido no fundo da pequena casinha, trêmulo de frio sob a noite gelada, naquela quintal da frente, e eu torcia para o bicho não contrair uma pneumonia... Mas admito que eu tinha o desejo secreto de que Diabinho desaparecesse. Ele corria desembestado pela rua e sumia por um dia ou dois... mas sempre voltava para casa. A cachorra que pertencia à vizinha da frente, que era um doce de tão meiga e silenciosa, sumiu assim de vez um dia. Mas Diabinho não. Estava sempre firme e forte lá. E a fina que os carros tiravam dele quando corria rua abaixo! As três células até que tinham pena, mas algo malévolo dentro de mim... bem, deu para entender.

     Às vezes, pensávamos em colocar Diabinho no porta-malas e levá-lo para outra parte da cidade. Um bairro nobre até, por que não? Onde seria melhor tratado e teria suas regalias. Mas e a coragem? Afinal, não tínhamos esse direito. Não sei de onde o pequeno Diabinho tirava tanto fôlego... e Baranga tanto sadismo..., mas o bicho latia "non-stop". Aquele ruído infame já estava gravado no meu ouvido. Era traduzindo os meus livros, assistindo tevê, fazendo as refeições, tentando dormir à noite, regando as plantas... regando as plantas, então, parecia que o maldito estava dentro dos vasos. O fato é que o ser humano tem limite. Eu já estava com os nervos acabados, pensando seriamente em me mudar dali com a família àquela altura.

     Chegamos a um ponto em que odiávamos meses de férias, dias ensolarados, horário de verão; torcíamos para que chovesse no fim de semana para a molecada dar sossego, para acabar a luz e não ter a bateria e para que Baranga se divertisse com Diabinho na Praia Grande. Mas Diabinho atormentou tanto que um dia revolvi tomar uma atitude drástica. Eu já não estava mais raciocinando direito, o estresse consumia cada pedacinho do meu ser.

Pensei cá com os meus botões. Vou dar um susto na Baranga. Só assim ela vai se arrepender de não ter colocado o "infernífero" Diabinho para viver no distante quintal dos fundos.
     Sabem, isso não é do meu feitio. Até me considero uma boa pessoa, de ótima índole, etc., mas, como já mencionei em alguma parte deste blog, ninguém é de ferro, a não ser o Homem de Ferro. E eu adoro cães; sério. Tive os meus, tive gatos, uns três peixinhos. Adoro bichos, natureza. Enfim... Mas eu tinha de agir, ou iria enlouquecer.
    Só recomendo que ninguém faça isso. É perigoso para todos os envolvidos. Lá estava eu de madrugada, tentando dormir... e era como se a peste esganiçada estivesse latindo dentro do meu quarto. Então, desesperada, exausta, tive a idéia. Fui até a geladeira e peguei uma bolinha de carne moída congelada do freezer acima. Depois, com o coração disparado, saí na pontinha do pé para o meu quintal, de camisola, me guiando apenas pela iluminação da rua. Meu portão fez um barulho danado, apesar de todo meu cuidado para destrancá-lo. Esperei, sorrateira, a bolinha gelando na minha mão suada, o coração ameaçando sair pela boca. Pensei comigo mesma: "Agora, a peste vai parar de encher de uma vez por todas".
    Certificando-me de que ninguém tinha ouvido o barulho do portão, saí para a calçada de fininho e me aproximei do portão da Baranga... Diabinho estava lá... latindo como sempre, mas parou quando me viu. Ele até que gostava de mim, não percebia as minhas "vibes" negativas. No momento em que atirei a bolinha de carne congelada para ele, um garoto passou pela rua deserta. Pensei: "Pronto, agora ferrou!" Mas ou ele não entendeu nada, ou pensou que eu fosse um fantasma de camisolão no meio da madrugada, mas o fato é que não me denunciou mais tarde. Para dizer a verdade, nem vi direito quem era.
Agora, vamos à bolinha de carne congelada...
     Em primeiro lugar, quero ressaltar que é uma coisa hedionda envenenar um animal. Jamais façam isso. Os animais não têm culpa da estupidez de alguns donos. Acredito que tudo o que um animal de estimação faz de errado é culpa do dono que não o ensina adequadamente. Outro apelo que faço é que os vizinhos sejam mais cordiais, compreensivos e respeitosos uns com os outros. Ninguém é obrigado a suportar o barulho absurdo do outro. Todo mundo é livre desde que respeite o espaço de seu semelhante. Nosso lar é o nosso reduto, o nosso cantinho para descansar ou até trabalhar, curtir a família, receber nossas visitas; nosso lar é o nosso santuário e como tal deve ser respeitado.
Mas voltando à bolinha de carne congelada... A bolinha de carne não estava envenenada. Não continha nada de errado. Era apenas carne moída que eu guardava no freezer para uso na cozinha.

     O meu "raciocínio" naquele instante de tormento foi o seguinte: "Baranga verá a bolinha de carne moída no quintal de manhã e pensará que alguém tentou envenenar Diabinho. Assim, não o deixará mais no quintal da frente, tão exposto e vulnerável. Vai levá-lo para o enorme quintal dos fundos, onde os latidos ficarão abafados e talvez ele resolva nem latir tanto, pois poderá saltitar lá alegremente em todo aquele espaço (ela não queria limpar as necessidades do "diabrete" no quintal enorme)".
     E, cá para nós, acho que o bicho passava fome. É, acho que também latia de fome. Na minha ingenuidade, atirei a bolinha congelada para Diabinho no meio da madrugada. O garoto estranho passou direto pela rua, aumentando o meu terror e preocupação.
    Diabinho d-e-v-o-r-o-u  a bolinha de carne moída em cinco segundos. Não deixou o menor vestígio para a Baranga ver; ela nem soube. E o bicho não pegou nem um resfriado sequer. Ao mesmo tempo apavorada e espumando de raiva, corri para o meu quintal, enquanto o guloso acabava de engolir a bolinha de carne. Nem para engasgar também, não. O portão pesado fez aquele estrondo outra vez. Corri para dentro, tranquei a porta e voltei a me deitar, ainda suando frio.

     Diabinho começou a latir forte e alegremente.
     Não sei quanto tempo durou a minha angústia geral, mas, pelo jeito, os incomodados é que têm de se mudar, não os que incomodam. Enfim, com a graça de Deus, nos mudamos para o paraíso... não o bairro, mas um lugar bem, bem tranquilo e respeitoso.
     E, segundo soubemos, Baranga se mudou para outro estado dois meses depois disso, ao receber uma indenização qualquer que usou para comprar uma casa num condomínio de luxo.
     O pobre Diabinho morreu um dia depois da mudança deles para lá, atropelado numa das ruas calmas do condomínio.

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28 DE ABRIL DE 2013

Meu blog completa 2 anos!


     Criei o meu blog exatamente no dia 28/04/2011 como um projeto muito especial para mim. Depois de 20 anos trabalhando como tradutora, tive a ideia de criar um blog para comentar minhas traduções e dar dicas de tradução a quem se interessasse. Também sempre adorei livros e sonhei em escrever alguma coisa algum dia. O blog foi uma forma que encontrei de escrever os meus textos e, como digo, “brincar” de escritora.
     Desde que o criei, o blog, que vive em constante evolução, passou por uma transformação total, embora o conteúdo inicial tenha permanecido o mesmo. No início, a página principal era sobre as traduções e eu escrevia os meus textos em algumas das páginas adicionais. Então, me ocorreu que deixaria o blog mais interessante se fosse publicando os meus textos na página inicial. Daí mudei tudo de lugar, coloquei os comentários sobre os livros numa página adicional e batizei o blog de “Aprendizes de Escritores”. Não é um blog onde ensino técnicas de escrita, como os blogs convencionais desse tipo. É um blog através do qual acho que eu mesma aprendo a escrever. Eu sou a aprendiz de escritora e espero poder passar alguma coisa através dos meus textos para outros aspirantes a escritor, nem que seja no mínimo o encorajamento.
     O Aprendizes de Escritores também se destina a visitantes em geral que simplesmente queiram se entreter com seu conteúdo.

     É com orgulho, portanto, que comemoro o aniversário dele e agradeço de coração aos seguidores e visitantes.

(Blog's second anniversary - April/2013)






23 de abril de 2013

Dia Mundial do Livro


     Desde pequena, os livros sempre foram e continuam sendo meus companheiros inseparáveis. Já perdi a conta de quantos li, viajando por inúmeras páginas recheadas de vários tipos de histórias e gêneros. Também gosto de livros de autoajuda, que nos fazem sentir realmente bem, como se fizéssemos uma terapia personalizada.
     Quando leio, mergulho na história e aquele livro passa a fazer parte dos meus pensamentos diários, como se eu estivesse assistindo aos capítulos de uma novela, querendo saber o que vai acontecer em seguida.
     Quando estou lendo um livro, não penso mais nada, esqueço as preocupações e problemas, e me distraio através dessa que também é uma forma interessante de lazer.
     Claro que os livros devem ser sempre vistos como companheiros, não como uma fuga à realidade ou um tipo de isolamento das demais pessoas. Podem até nos acompanhar num passeio para lermos uma página ou outra num momento de descanso, mas temos de desfrutar os outros tipos de lazer. Não vamos passar o dia inteiro lendo, temos outras coisas para fazer.
    Mas se há uma coisa prazerosa é desfrutarmos aquele tempo que podemos dedicar à leitura.
    No meu caso, os livros também se transformaram em companheiros de trabalho porque, há mais de 20 anos, são os originais da traduções que faço. É mais um motivo de eu adorar tanto o meu trabalho, pois acabo me aprofundando muito mais nesses livros do que se fosse uma leitura normal e me empenho para que o resultado final não deixe nada a desejar.
    Apesar de toda a bem-vinda tecnologia de hoje, que me ajuda muito em pesquisas e estudos, prefiro o livro de papel aos e-books quando se trata da leitura como lazer. Adoro andar por feiras de livros, livrarias e garimpar no sebo, olhando capas de livros, folheando páginas. Quando leio, gosto de pegar o livro de papel nas mãos, de folheá-lo, de descansar os olhos de telas eletrônicas e me ajeitar o mais confortavelmente possível enquanto deixo a imaginação navegar por mais uma história.
     No dia 23 de abril, Dia Mundial do Livro, através do meu blog Aprendizes de Escritores, onde também estou aprendendo a escrever, faço a minha homenagem a esse companheiro inestimável, o livro. tj*¬


P.S.: Não podemos esquecer que milhões de pessoas no nosso país e no mundo não têm acesso nem a livros de papel quanto mais a e-books. Jamais podemos considerar bibliotecas públicas ou sebos como obsoletos. Temos de divulgar iniciativas como as bibliotecas itinerantes, as promoções de livros das livrarias e as campanhas de doação de livros, doando livros sempre que pudermos.