Certo
dia, numa data não muito precisa, dois dos extraterrestres que davam
"suporte técnico" aos maias, Shuruh e Byzun, estavam jogando conversa
fora.
B _ E aí,
Shuruh, beleza?
S
_ Tudo na moral, Byzun!
B
_ Eu tava pensando... A gente já tá aqui de bobeira há um tempão.
S
_ Fazer o quê, né? Ordens lá da chefia de TI.
B
_ Ah, mas isto aqui tá um marasmo, cara. Eu tava a fim de curtir uns lances
mais maneiros do que ficar aí, ensinando essas paradas de agricultura,
cálculos, para esse povo. Maior chatice. O que é que tu acha, Shuruh?
S
_ Não dá com a língua nos dentes não, mas tá um porre mesmo...
B
_ E se a gente fizesse alguma coisa... Tipo assim... Sei lá. Mais agitada?
S
_ Os caras vão falar para a gente que a galáxia, o Universo são bem grandinhos,
valeu? Não estão satisfeitos, procurem outra coisa.
B
_ Mas já tá dando pra trás antes da gente pensar num lance qualquer, Shu? Se
liga! Tuas férias tão vencidas e tudo. Do jeito que a coisa tá corrida aqui, a
chefia não vai te dar folga tão cedo, não...
S
_ E você acha que trabalho aqui porque eu gosto, mané? Este negócio de suporte
técnico a terráqueo é um porre, meu. E, depois, a patroa vive estourando o
limite do cartão de crédito.
B
_ É, ninguém merece, Shuruh... Aqueles juros do inferno, de meter medo até no
Darth Vader, a gente se matando de trabalhar que nem doido para elas
ficarem batendo perna pelo Universo inteiro, só gastando... Ainda se levassem a
minha sogra junto para passear perto do Buraco Negro... Vai que a
"véia" escorrega lá para dentro...
S
_ Podes crer... Ei, tive uma ideia, Byzun! E se a gente acabasse com a
Terra de uma vez por todas?
B
_ Ah, também não exagera, vai! Isto aqui pode não ser maneiro, mas eu preciso
deste emprego. Vou fazer o que depois?
S
_ É... a coisa tá braba. Para conseguir um trabalho naquelas empresas
intergalácticas não tá mole, não. Exigem um monte de coisas que acabam não
usando, pagam pouco e, no fim, colocam lá o mané do filho do dono, ou uma
“vadiete” qualquer...
B
_ Maior roubada... Quer saber, Shu? Dá vontade de acabar com este planetinha
aqui só de pirraça, tá ligado?
S
_ Talvez não fosse se perder muita coisa. Pelo que ando vendo na tela do
futuro, o povo daqui nunca aprende mesmo. É brabeza... E viu as espadonas
e machados que eles andaram sentando na cabeça uns dos outros nas guerras do
passado, né? Coisa tosca. Agora, no futuro ainda vão cometer muitos absurdos,
infelizmente...
B
_ Dá até arrepio. Sou contra a violência. Uma imbecilidade as tais guerras. Se
bem que, se eles tivessem fulminado a laser,
teria sido mais prático, sem aquela eca toda, não? Agora, fica de bobeira que
esses maias aí ainda vão te pegar. Você viu que medonho essa coisa de
sacrifícios? Se bem que os astecas pegam bem mais
pesado...
S
_ Isola, Byzun! Não tá vendo que eles adoram a gente, literalmente. É tipo
assim... um lance de superstar
intergaláctico... Tô dando autógrafo e tudo! Irado.
B
_ Só aqui mesmo... Mas voltando àquela parada, acho que seria mais fácil para
nós acabar com este planeta, né, não? O planeta em si até que dá para o gasto,
mas já estou cheio dessa vibe ruim
toda.
S
_ É, seria, mas tô sem tempo, cara. Vou ter que esperar até me aposentar.
B
_ Como assim, criatura? Vamos ter que esperar tudo isso aqui? Já não tá dando...
E foi você que deu a ideia, lembra?
S
_ Sossega o facho, Byzun. Ouvi dizer que a gente não vai ficar aqui muito tempo
mesmo. É só para ensinar o básico aí para o povo, valeu?
B
_ Será...? Os caras só prometem, prometem e a gente aqui se ferrando, com esse
salário chinfrim. Dá a maior deprê, tá ligado?
S
_ Vê se você topa este lance, Byzun. A gente pode acabar com este
mundo, tipo... Mais para a frente. Afinal, sabe como é... A gente ensina o
serviço direitinho, depois vêm outros e dão aquele pé na bunda da gente de
qualquer jeito... É sempre assim.
B
_ É, pega geral. Deixa eu ver uma coisa aqui na minha agenda holográfica... E
se a gente acabasse com o mundo bem mais no futuro... Tipo em... 1843?
S
_ Hummm... Deixa eu ver. Não vai dar, não. Vou estar superocupado nessa época.
Vou ter uns cursos de reciclagem, palestras em
Alfa Centauro; maior chatice. Que tal em... Deixa eu ver... Acho que dá,
sim... Tipo em... 2012?
B
_ Taí, Shuruh. Gostei; número redondinho. É só escolher o dia e a hora.
S
_ É melhor mesmo. Vai saber o que ainda podem inventar para a gente fazer
aqui... Só falta pedirem para a gente ficar abduzindo o povo aí, para baixo e
para cima.
B
_ Nem me fale. Aquelas paradas lá das pirâmides do Egito já deram o maior
trabalho.
S
_ Brabeza... Aquele pessoal de TI acha que a gente é babá de terráqueo. Fala
sério!
B
_ A gente acaba com esta pocilga e pronto. Deixa eu ver... É... Pode ser em
2012 mesmo. Deixa ver a que horas... Resolvido. É só falar para os maias
marcarem lá naquele lance de calendário deles para o povo ir ficando esperto...
S
_ Mas espera aí, Byzun. Só agora é que percebi. Nesse dia e horário vai
ter um problema de logística.
B
_ Ei, Shuruh. Lá vem você embaçando agora. É por isso que não sai dessa,
cara! E depois quer ser promovido...
S
_ Ei, fica de boa. Que neura! Só tô tentando achar um jeito, valeu? Mas nesse
dia e horário de 2012 não vai dar. Melhor não... Aliás, não dá para marcar uma
data exata... Nunca!
B
_ Por que não, cara? Como assim?
S
_ Saca só, seu sem noção. Tem umas paradas complicadas aqui. Como é que a
gente acaba com o mundo numa data marcada? Começa por onde, pela Austrália?
Pelo Japão? Pelo Brasil?
B
_ Não tinha pensando nisso... Se a gente marca... tipo... “acabar com o planeta
Terra no dia tal, às 12:00 h em ponto”, certo? Quando a galera das
Américas vir que o mundo já acabou lá na Austrália, isso vai estragar
o climão, né, não, cara?
S
_ Lógico, mané. Não dá. Desencana. Tem esse problema de fuso horário. Sem falar
no tal horário de verão. Aí acabo tendo que fazer hora extra...
B
_ Hora extra! Como assim? Eles nem pagam; vêm com esse papo de banco de
horas... Mas você falou que já ia estar aposentado.
S
_ Com essa merreca que eles pagam? Vou ter que continuar trabalhando depois de
aposentado e tudo. Ainda mais a gente, que vive milênios... Mas quer saber, já
me enchi desse papo, Byzun. Não vai dar para acabar com a Terra em 2012, não.
B
_ É, falou. Muita mão de obra para exterminar um planeta. É que nem reforma...
Só que ao contrário, ah, ah... A gente sempre acaba gastando mais do que o
orçamento.
S
_ É... eu só tava viajando um pouco, Byzun. Saudade lá da tchurma; sabe como é.
É... Esquece esse papo de acabar com a Terra.
B
_ Beleza. Deixe que os terráqueos se entendam entre eles mesmos. Eles se
merecem, afinal. Agora, “bora lá” para o batente que ainda temos uma porção de
coisas para ensinar para esses maias.
S
_ Pelo menos, a galera maia vai preparar um churrasquinho maneiro pra
gente curtir mais tarde em volta da fogueira, Byzun.
B _ De origem animal, eu
espero, Shuruh. Me amarro nessas comidas da hora que os
terráqueos inventam.
S _
Eu também. Espere só até eles inventarem a pizza.
E refri.
B _
Ou aqueles sorvetes todos... É, pensando bem, até que a Terra tem umas coisas
interessantes.
S _ É
verdade. Bem, bora lá!
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