6 de janeiro de 2012; sexta-feira. Chegada ao hospital por volta das dez horas da manhã. Tudo o que mais desejei naquele momento, com todo o fervor, foi ver o taxista que nos levaria de volta para casa no domingo.
Seguindo os trâmites, fomos encaminhados ao quarto e, como a cirurgia estava marcada apenas para as três da tarde, tentei me distrair como podia. Não sei o porquê, faltando tanto tempo, mas já fui colocando logo aquele avental de hospital e a touca. Como não gosto de ar condicionado, abri todas as persianas e janelas para driblar o calor, mas deu uma trabalheira danada ficar arrumando o avental para não ficar com o bumbum de fora.
Aquele era um terceiro andar que parecia vigésimo, devido à arquitetura do prédio. Com os meus dois medos travando uma batalha, acho que consegui vencer o de altura. Nem liguei para aquela vista vertiginosa das janelas. “O que de pior poderia me acontecer?”, ponderei. “Cair lá em baixo e vir parar num hospital?”
No dia anterior, quando o médico avisou que eu não poderia beber água a partir das cinco da manhã do dia da operação, já me senti instantaneamente desidratada. Fui bebendo água desde o consultório até
Coloquei o despertador para antes das cinco, fiz o café e, depois da minha xicarazinha sagrada de café quente puro, parti para o desjejum _ café com leite, pão com manteiga, meio mamão, uma banana com aveia e um iogurte, arrematando tudo com mais uma xicarazinha de café puro. Embora eu jamais tenha comido tanto logo cedo, felizmente, tenho estômago de ferro.
Eu estava caindo de sono, pescando mesmo, mas não queria dormir para não ficar “acordada” demais mais tarde; queria guardar o sono para o
“durante e depois” da operação.
Sabia que seria sedada, mas não custa prevenir.
De repente, a internet havia perdido todo o encanto; não tive vontade de entrar no Twitter, no Facebook e, horror dos horrores, nem no adorado Google.
Daí entrei no meu blog, tentando encontrar conforto nas minhas próprias palavras. “Faça muitas vezes uma mesma coisa e ela deixará de intimidar você”. Fácil falar, né? Como fazer muitas vezes a mesma coisa naquela situação, operando cem vezes? Nem pensar... No caso, acho que se aplica mais: “Medo tolo para um, tirano da vida de outro”. Resolvi ler a parte inteira de “Versos Bíblicos Favoritos” e, não é por falar, não, mas me ajudou bastante.
um jeito, ou de outro, o Tai Chi acabou me
ajudando, sim.
Depois de uns telefonemas e uns e-mails (e uns impropérios), tudo resolvido.
O fato é o seguinte. Quando aquela enfermeira gentil veio me buscar às três da tarde, eu me senti sendo levada para a cadeira elétrica. Devo ter praticamente arrastado o meu anjo da guarda junto. Lá foi a minha cama de rodinhas sendo empurrada por aquele corredor interminável, estreito, as luzes brilhando acima. Os esbarrões clássicos daqui e dali, elevador, lágrimas escorrendo copiosamente pelo meu rosto. É... já não deu para segurar mais. Palavras de conforto e encorajamento de enfermeiras tão carinhosas e do meu marido, as quais vou guardar para sempre.
Acho que vou me grudar ainda mais nesta
cama e berrar para dizer que não
quero mais! Mas respirei fundo, rezei mais um pouco e me mantive o mais firme que uma gelatina consegue. Era um centro cirúrgico enorme, de um hospital renomado, com equipe e cirurgião competentes já sabendo dos meus chiliques e tendo tomado todas as providências para que eu me acalmasse e tudo transcorresse o mais tranquilamente possível. Claro que, para os especialistas, essa é a coisa mais natural do mundo.
quanto conduziam minha maca pelo centro cirúrgico, vi uma porta entreaberta e um paciente sendo inclinado para a frente numa mesa, na preparação para ser anestesiado. Gelei por inteiro. Prossegui e fui transferida para a mesa de operações da minha respectiva sala cirúrgica. Sem água, não sei de onde tirei tantas lágrimas. Uma senhora de carinhosos olhos azuis parou ao meu lado na mesa e me tranquilizou. Era uma das médicas da equipe, mas preferi pensar que fosse um anjo.
Não era... ufa! Diante de mim, estava a temível cortininha, e havia uma serena movimentação do outro lado; a operação transcorria normalmente, e eu não sentia nada graças à anestesia. Provavelmente nesse instante tornaram a ajustar a dose do sedativo, conforme a necessidade. Tudo isso durou uma fração de segundo para mim.
Fechei os olhos e quando tornei a abri-los, já estava na sala de recuperação da anestesia, começando a mexer as pernas novamente. A operação foi um sucesso, me recuperei muito bem e deixo aqui meus sinceros agradecimentos à atenciosa equipe e ao cirurgião. Fui super-paparicada durante três dias no hospital, aproveitei para pôr o sono em dia, recebi imenso carinho da família e dos amigos. E quer saber... que hospital que nada! A essa altura, eu já estava me sentindo num hotel!
Também não estou chateada por ter precisado fazer uma histerectomia, pois o útero já havia cumprido seu papel. Se você também fez uma histerectomia como eu e não deseja mais filhos, nada de tristeza e nem de ficar "sentindo um vazio por dentro" (como muita gente diz _ embora eu respeite os sentimentos dos outros, claro). Agora que resolvi esse problema, me sinto mais cheia de vida, mais disposta, mais animada, mais saudável, mais feminina e com mais vontade ainda de continuar cuidando bem da minha saúde física, mental e espiritual... e de quem mais eu puder ajudar em situações semelhantes.
Moral da história: se você consegue superar o seu maior medo (mesmo que a duras penas), todos os outros medos serão bem mais fáceis de dominar. E quanto mais medos você supera, mais você vai aprendendo e se fortalecendo, evoluindo como pessoa e lapidando a sua alma.
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