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Sou Tradutora (inglês/português) profissional, formada em Letras-Tradução pela Universidade Anhembi-Morumbi, atuando há mais de 20 anos no campo técnico e especialmente literário. Traduzi mais de 190 livros até o presente, entre romances, livros de negócios, de autoajuda, biografias, guias, trabalhando como freelancer para editoras renomadas. Também escrevo artigos, crônicas, textos em geral, e acabo de publicar o “Meu Próprio Livro”. I'm a professional Translator (English/Portuguese), with a Letters/Translation degree. I've been working for more than 20 years in the area, with technical and especially literary translation. I’ve translated more than 190 books up to now, among novels, business books, biographies, self-help books, guides, working as a freelancer for renowned publishers. I also write articles, chronicles, general texts, and I’ve just published my own book, called “Meu Próprio Livro”.

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Onde quer que você esteja, sinta-se em casa aqui!
Wherever you are, feel at home here.
Donde quiera que estés, te sientas en casa acá.

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São inúmeros aqueles que não são mais escritores aprendizes, mas todos somos aprendizes de escritores para sempre...
There are countless ones who are no longer apprentice writers, but we are all writers' apprentices forever...

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Agora que Isso Já Passou!




6 de janeiro de 2012; sexta-feira. Chegada ao hospital por volta das dez horas da manhã. Tudo o que mais desejei naquele momento, com todo o fervor, foi ver o taxista que nos levaria de volta para casa no domingo.
 Subimos até o andar da recepção e olhei, apreensiva, ao redor, até ir sentar na sala de espera. De fato, como o meu atencioso médico havia me dito, o hospital parecia um hotel, sem pronto-socorro, tudo tranquilo. Quando sentei para aguardar, fingi que estava numa empresa, esperando para fazer uma entrevista de emprego. (Assim, se você estiver numa empresa, esperando para fazer uma entrevista de emprego, faça de conta que está num hospital esperando para ser operado _ seu nervosismo passará rapidinho.)

Seguindo os trâmites, fomos encaminhados ao quarto e, como a cirurgia estava marcada apenas para as três da tarde, tentei me distrair como podia. Não sei o porquê, faltando tanto tempo, mas já fui colocando logo aquele avental de hospital e a touca. Como não gosto de ar condicionado, abri todas as persianas e janelas para driblar o calor, mas deu uma trabalheira danada ficar arrumando o avental para não ficar com o bumbum de fora.

 Aquele era um terceiro andar que parecia vigésimo, devido à arquitetura do prédio. Com os meus dois medos travando uma batalha, acho que consegui vencer o de altura. Nem liguei para aquela vista vertiginosa das janelas. “O que de pior poderia me acontecer?”, ponderei. “Cair lá em baixo e vir parar num hospital?”
As horas foram se arrastando. Só de pensar que eu não podia beber água, já me sentia como se estivesse há três dias num deserto escaldante.

  No dia anterior, quando o médico avisou que eu não poderia beber água a partir das cinco da manhã do dia da operação, já me senti instantaneamente desidratada. Fui bebendo água desde o consultório até em casa. Acho que nunca bebi tanta água na vida como naquela véspera. (É, temos que dar mais valor às coisas mais simples e preciosas da vida...) Admito que fome eu não sentia... provavelmente por causa do medo e da ansiedade. Tive permissão de fazer o desjejum às cinco da manhã, escovar os dentes e não ingerir absolutamente mais nada. Pensei com os meus botões: “Como, cargas d’água, vou ter apetite às cinco da manhã?” 

Coloquei o despertador para antes das cinco, fiz o café e, depois da minha xicarazinha sagrada de café quente puro, parti para o desjejum _ café com leite, pão com manteiga, meio mamão, uma banana com aveia e um iogurte, arrematando tudo com mais uma xicarazinha de café puro. Embora eu jamais tenha comido tanto logo cedo, felizmente, tenho estômago de ferro.
Olhei para o meu relógio no quarto do hospital. Onze horas; onze e um... onze e dois... E, assim, aquela parte do dia continuou se arrastando. Não conseguia prestar atenção na tevê, nem ler as toneladas de livros e revistas que levei, nem dormir...

 Eu estava caindo de sono, pescando mesmo, mas não queria dormir para não ficar “acordada” demais mais tarde; queria guardar o sono para o
    “durante e depois” da operação.
 Sabia que seria sedada, mas não custa prevenir.
Tapando o bumbum daqui e dali com o avental (a essa hora eu já havia concluído que podia tirar a touca), fiquei zanzando pelo quarto, até que resolvi usar o laptop.  
De repente, a internet havia perdido todo o encanto; não tive vontade de entrar no Twitter, no Facebook e, horror dos horrores, nem no adorado Google.

 Daí entrei no meu blog, tentando encontrar conforto nas minhas próprias palavras. “Faça muitas vezes uma mesma coisa e ela deixará de intimidar você”. Fácil falar, né? Como fazer muitas vezes a mesma coisa naquela situação, operando cem vezes? Nem pensar... No caso, acho que se aplica mais: “Medo tolo para um, tirano da vida de outro”. Resolvi ler a parte inteira de “Versos Bíblicos Favoritos” e, não é por falar, não, mas me ajudou bastante.
Pena que não pensei na hora em recordar
tudo o que já aprendi no Tai Chi Chuan, a
arte marcial perfeita para "pilhas de nervos"
ambulantes como eu, mas, com certeza, ou de
um jeito, ou de outro, o Tai Chi acabou me
ajudando, sim.
Hora de almoço, enfim, mas eu não podia comer... e nem precisava. Sede, sede e mais sede... (Ai, estou bebendo uma garrafinha de água agora mesmo enquanto digito meu relato). Mais sede... zanzando de volta pelo quarto. Daí o celular tocou. “Ah, uma bem-vinda distração!”, pensei. Alguém querendo me encorajar, me acalmar com palavras amigas reconfortantes.
Não, o banco avisando para cobrir um depósito qualquer. Bem, ao menos algo para ocupar o tempo. É tudo que você precisa para desviar a atenção de uma preocupação... outra preocupação. E nada como a tecnologia a nosso favor.

 Depois de uns telefonemas e uns e-mails (e uns impropérios), tudo resolvido. 

Obrigada ao banco que me ligou num momento tão marcante. Jamais esquecerei.
Uma e dez. "Jornal Hoje"... Sandrinha e Evaristo para dar algum consolo nessa hora. Duas; duas e cinco; “pescar”, colocar touca de volta... Rezar, rezar e rezar ainda mais para Deus, Jesus, tudo que é santo e, em especial para Nossa Senhora e São Miguel Arcanjo, que me protegeram tanto.

 O fato é o seguinte. Quando aquela enfermeira gentil veio me buscar às três da tarde, eu me senti sendo levada para a cadeira elétrica. Devo ter praticamente arrastado o meu anjo da guarda junto. Lá foi a minha cama de rodinhas sendo empurrada por aquele corredor interminável, estreito, as luzes brilhando acima. Os esbarrões clássicos daqui e dali, elevador, lágrimas escorrendo copiosamente pelo meu rosto. É... já não deu para segurar mais. Palavras de conforto e encorajamento de enfermeiras tão carinhosas e do meu marido, as quais vou guardar para sempre.
Mas não adianta. Achei que paguei todos os meus pecados naqueles momentos. O medo é irracional e, no final das contas, só nos faz perder tempo. Eu já estava na sala de preparação, chorando baixinho e engolindo em seco, grudada feito um gato nas grades de ferro da cama. “Acho que vou ter um ataque histérico”, pensei. 

 Acho que vou me grudar ainda mais nesta 
cama e berrar para dizer que não 
quero mais! Mas respirei fundo, rezei mais um pouco e me mantive o mais firme que uma gelatina consegue. Era um centro cirúrgico enorme, de um hospital renomado, com equipe e cirurgião competentes já sabendo dos meus chiliques e tendo tomado todas as providências para que eu me acalmasse e tudo transcorresse o mais tranquilamente possível. Claro que, para os especialistas, essa é a coisa mais natural do mundo. 
 quanto conduziam minha maca pelo centro cirúrgico, vi uma porta entreaberta e um paciente sendo inclinado para a frente numa mesa, na preparação para ser anestesiado. Gelei por inteiro. Prossegui e fui transferida para a mesa de operações da minha respectiva sala cirúrgica. Sem água, não sei de onde tirei tantas lágrimas. Uma senhora de carinhosos olhos azuis parou ao meu lado na mesa e me tranquilizou. Era uma das médicas da equipe, mas preferi pensar que fosse um anjo.
Agora... aqui neste ponto tenho de fazer um pequeno aparte. O que eu mais queria era dormir logo e acordar no quarto quando tudo estivesse concluído bem, como eu havia rezado para que fosse. Mas ainda enfrentei aquela que, no fim das contas, acabou sendo a parte mais dolorida de todas. Levei duas espetadas dos diabos na mão esquerda... oh, dor maldita! Mas... tudo numa boa... Foi para injetarem o sedativo e sei lá mais o que para eu dormir... nem sequer tive de passar pelo meu pavor de testemunhar a aplicação da raque.
Finalmente, acordei. Olhei para cima e vi uma luz brilhante. Pai Eterno, eu havia suplicado para não ter uma EQM...  
 Não era... ufa! Diante de mim, estava a temível cortininha, e havia uma serena movimentação do outro lado; a operação transcorria normalmente, e eu não sentia nada graças à anestesia. Provavelmente nesse instante tornaram a ajustar a dose do sedativo, conforme a necessidade. Tudo isso durou uma fração de segundo para mim.

 Fechei os olhos e quando tornei a abri-los, já estava na sala de recuperação da anestesia, começando a mexer as pernas novamente. A operação foi um sucesso, me recuperei muito bem e deixo aqui meus sinceros agradecimentos à atenciosa equipe e ao cirurgião. Fui super-paparicada durante três dias no hospital, aproveitei para pôr o sono em dia, recebi imenso carinho da família e dos amigos. E quer saber... que hospital que nada! A essa altura, eu já estava me sentindo num hotel!

     
Também não estou chateada por ter precisado fazer uma histerectomia, pois o útero já havia cumprido seu papel.  Se você também fez uma histerectomia como eu e não deseja mais filhos, nada de tristeza e nem de ficar "sentindo um vazio por dentro" (como muita gente diz _ embora eu respeite os sentimentos dos outros, claro). Agora que resolvi esse problema, me sinto mais cheia de vida, mais disposta, mais animada, mais saudável, mais feminina e com mais vontade ainda de continuar cuidando bem da minha saúde física, mental e espiritual... e de quem mais eu puder ajudar em situações semelhantes.
Faz um tempo que fui operada, mas não pude deixar de refletir bastante a respeito da vida em geral. Como sempre exagerada, eu estava dramatizando demais uma coisa que poderia ter sido bem mais simples. Não havia razão para tanto medo.
Passei a dar ainda mais valor a tudo, renovei a vontade de fazer tudo que ainda não tive chance de fazer... uma tatuagem de anjo, aquela viagem, um projeto esquecido na gaveta... enfim, de ir cumprindo uma missão atrás da outra na vida e de aproveitar bem cada momento.
E, mesmo quando há razão para ter medo, o que prevalece é a fé. A fé, o amor e tantos sentimentos bons que temos são capazes de vencer quaisquer obstáculos. Se acredito que há um destino traçado para nós? Acredito e que, de um jeito ou de outro, tudo acaba nos levando a ele, especialmente quando é bom. Mas acredito também que, ao mesmo tempo, somos donos do nosso destino, temos o livre arbítrio e temos a fé que certamente é capaz de milagres, como inúmeros que vemos, ouvimos ou nem sequer imaginamos que acontecem à nossa volta. Deus olha por nós e não nos esquece jamais, mesmo quando às vezes esmorecemos, e, em sua sabedoria, deseja a nossa felicidade.

Moral da história: se você consegue superar o seu maior medo (mesmo que a duras penas), todos os outros medos serão bem mais fáceis de dominar. E quanto mais medos você supera, mais você vai aprendendo e se fortalecendo, evoluindo como pessoa e lapidando a sua alma.





 Fonte de todas essas fotos de gatos fofos que adoro:
 imagens de domínio público da internet.

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