Não
sou de corrigir as pessoas na fala, pois acho que isso cabe aos educadores, mas
pessoas costumam me pedir para revisar textos. A nossa língua materna é uma
questão complicada. Ninguém usa a maneira formal e absolutamente
correta do idioma na fala do cotidiano (para não correr o risco de
soar pedante) e podemos nos considerar com sorte quando escrevemos
impecavelmente certo.
Mas
isso não significa que se deva descuidar do português. Não custa nada fazer uma
forcinha para falar um pouco melhor. Problemas de dicção à parte, a serem
arduamente resolvidos por fonoaudiólogos, porque, hoje em dia, muita gente fala
para dentro... É, ou não é? "A gente" virou "aenti";
"você" é "cê, existe o "kikifoi" e por aí vai
_ sem falar que o "internetês" merece um capítulo
próprio.
A
questão principal é que as pessoas não se dão conta de quanto seu idioma
materno é importante, não apenas em sua vida pessoal, mas principalmente na
profissional, que ele é um requisito essencial para
todas as profissões. Muita gente acredita que, se não é
professor de português, escritor, jornalista, tradutor, não precisa falar
português corretamente. Muitos agem como se o seu próprio idioma não fosse
parte inerente da sua profissão e cometem infâmias linguísticas e
gramaticais. Eles se esquecem de que precisam preparar relatórios, cartas,
e-mails legíveis, etc., conversar, expor suas ideias em reuniões, projetos, falar
claramente com clientes e por aí afora.
O
idioma materno correto é imprescindível em qualquer área (sem mencionar a
necessidade cada vez maior de se falar idiomas estrangeiros). Assim, se você é
um aluno que reclama que tem de estudar português, saiba que ele vai acompanhar
você durante a vida toda e, quanto mais correto, melhor. Aliás, tudo
que aprendemos, acabará sendo útil algum dia, de um jeito, ou de outro. Algo
que ajuda imensamente é lermos muito para, entre outras coisas, assimilarmos a
acentuação correta e adquirirmos vocabulário.
O
ponto crucial é que muitos profissionais se preparam exaustivamente,
fazendo mil e um cursos técnicos, faculdade, pós-graduação, informática,
espanhol, inglês, e não dão tanta importância ao português às vezes, o que os
leva a correr o risco de cometer derrapadas medonhas.
É
claro que também falo errado no dia a dia às vezes. Como toda boa paulistana,
confesso que engulo um "S" daqui e dali, trucidando
ocasionalmente o plural. Escapa um "Ai, que dor nas 'costa'" de
vez em quando, ou "Tira esses 'pé' daí". Ou uso o "tá",
"tô", como todo mundo coloquialmente. Ninguém é de ferro (exceto
o Homem de Ferro), certo? Dependendo da situação, temos de dar um
desconto para uma escorregadela ou outra.
Quando escrevo textos e na minha profissão como tradutora, porém, tenho
de escrever o mais corretamente possível, sendo que o português chega a ser
mais importante até do que o inglês nas traduções, pois ele é o "resultado
final" do trabalho. Claro que fico com várias dúvidas e,
além das pesquisas que faço, tenho instalado como companheiro inseparável o
Aurélio, que considero o melhor dos dicionários de português, além dos
dicionários confiáveis online.
Agora, da mesma justa maneira que as minhas escorregadelas devem doer
aos ouvidos dos outros, o que não aguento, o que dói ao primeiro acorde
desafinado é o já clássico "para mim fazer" ou "para mim
(acrescente um verbo qualquer no infinitivo)". Eu me retorço por dentro
quando ouço uma derrapada dessas, embora dê o devido desconto quando quem fala
assim é alguém que não teve acesso à instrução. Quando alguém diz “para mim
fazer”, tenho de reprimir uma vontade imensa de berrar um "é para EU
fazer" a plenos pulmões.
Há
certo tempo, um advogado perdeu toda a credibilidade comigo quando soltou um
"para mim fazer". Estava indo bem, eloquente e tudo mais, mas depois
do primeiro "para mim fazer", tudo que ouvi foi uma sequência de
"para mim ir", "para mim buscar" e sei lá o que mais. Era
para resolver uma coisinha corriqueira qualquer, mas não me animei a contratar
os serviços dele.
Não é uma questão de ser
chata, mas acho que, se um profissional não aprendeu nem sequer o próprio
idioma primeiro, não deve ter aprendido o restante tão bem assim tampouco. E os
e-mails que vejo às vezes... Como uma criatura não sabe que tem de usar ponto
final, vírgula e outras coisinhas básicas para ser compreendida? De pessoas
instruídas, sim, de variadas profissões... Em suma, a fala e a escrita
corretas, como vários outros aspectos, são partes importantes da imagem das
pessoas, complementando seu “cartão de visitas”.
O
que ajuda bastante é lermos muito para, entre outras coisas, assimilar a
acentuação correta e adquirir vocabulário. O ideal é quando se lê para os
os filhos desde bem cedo, ensinando-os a cultivar o saudável hábito da
leitura. Uma das coisas mais gostosas da vida, sem dúvida, é ler em família e ler
para uma criança.
0 comentários:
Postar um comentário